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Três poemas de Eccio Casasanta Urrutia

  • Foto do escritor: Silvio Carneiro
    Silvio Carneiro
  • 5 de ago. de 2024
  • 3 min de leitura

Nestes oito meses de edição da nossa revista, temos sido surpreendidos muito positivamente com o alcance que estamos conseguindo. Isto é muito importante, pois mostra a força e o interesse pela literatura brasileira produzida aqui no Amapá.


Desta vez, recebemos com muito carinho três poemas gentilmente cedidos pelo poeta ítalo-venezuelano Eccio Casasanta Urrutia. Ele, que atualmente reside em Londres, é escritor de haicai, professor, fotógrafo, escritor de contos e romances e engenheiro agrônomo. Recentemente, foi finalista de três antologias, incluindo "Haikus, poemas e micro-histórias", na Espanha e na Colômbia. Tem dois livros publicados: "Almas Inmigrantes" e "Las Orillas de las edades", (este último escrito em inglês e espanhol), ambos à venda na Amazon. Com várias publicações em revistas digitais de prestígio na América Latina Eccio chega finalmente ao Zezeu nesta edição e promete enviar outros textos em edições futuras.


É considerado um poeta romântico que expressa em sua poesia uma linguagem simbólica também ligada ao modernismo e ao vanguardismo, com tons populares moderados. Para quem ainda não o conhece, seguem abaixo três poemas que mostram toda a força, beleza e sensibilidade de Eccio Casasanta Urrutia.



A PARTIDA


Nas trevas,

sentados nas escadas do tempo,

rostos de tristeza olham sem ver,

oferecem sacrifícios,

destino que desenha o momento.

Filhos da floresta abraçados,

a tristeza nasce ausente.

Olhares confusos tornam-se

passageiros da distância.

Vai-se meu corpo, vão-se minhas mãos,

vão-se meus sorrisos, vai-se a nossa noite.

Passos úmidos guardam memórias,

cofre que bate por resgatar o sangue,

vencer os medos,

vencer os mares, retornar.


Em cada gota de lágrima

renasce a memória;

com cada passo, os pés tornam-se pó.

Vou-me com a umidade de suas mãos,

as lembranças açoitam peles caladas.

Belzebu,

companhia fatal,

esconde-se nas noites

debaixo de lágrimas,

dorme ao lado dos meus

medos jogando com o destino

que apenas desenha a esperança

da morte noturna.

Voltarão minhas pálpebras,

voltarão gotas de lua

Queria ser eu quando nasci,

reclinar minha testa,

não abandonar a margem,

olhar os olhos do tempo,

sem viajar a terras estranhas.

Pensar de

lugares estrangeiros,

recuperar corações abandonados,

candelabros de tecido.

Consolo, remédio de voltar.

Causa fatal da minha partida,

ignorada, momentos de condenação pétrea calando dias que não existem.

Evitando lembranças,

garoa que mantém a ponte dos meus passos.





VÃO ENAMORADOS


Como loucos dançam perpétuos,

arrebatam o instante, apressam seu destino,

indeléveis cantam consumindo beijos,

ilusões, esperanças.


São saudações eternas caídas na alma contente,

ventres que resplandecem sem dor

buscando com afã margens que ardem.,

cinzas sem decadência, lendas precisas.


Enamorados conservam o tempo

encontrado no topo dos desejos, espirais vivos,

armas que não desembainham, fossas sem medo,

costas náufragas, equilíbrio, balança de desejos sobre

pedaços de amor, precipício, vício de ter você.


São ilhas escorregadias, sorridentes, sem reproches,

vento da roseira carregando o espaço entre nuvens,

giram com força, caminham no profundo,

florescem com o calor de um inverno sem bocas,

famintos de silêncios, corações transparentes

com cílios de diamantes, lençóis brancos com manchas de sede.


Vencendo as sombras, noites sem deserto, feitiços,

absurdos que causam risos, mel dançando entre pernas e desejos.


Bravura, momentos que assobiam,

olhos devorando loucuras, luz, existência breve,

sentados sem descanso, trancas sem chaves,

cadeados, portas que empurram beijos…


Flagelam-se, dançam, oferecem com excesso,

vivem em rotinas que não dormem.


Os jardins sem camas constroem as primaveras.


Com travesseiros sem cabeças, somos artistas apaixonados por tudo.





ÁRVORES E VENTO


Somos terra e pó,

telhados sobre florestas açoitados por cervos frios,

piedade, orvalho taciturno, frustração que

transborda caminhantes com mãos gélidas.


Parecemos tristes

mas apertamos a noite soprando tempos

cultivando a água, brotando vida entre

as sombras perdidas,

anos longos que trarão ausências.

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