Yueh Fernandes: uma escritora entre sombras e encantamentos
- Lulih Rojanski
- 25 de mar.
- 2 min de leitura

No cruzamento entre o horror e a fantasia, a literatura brasileira tem em Yueh Fernandes uma voz intrigante e promissora. Nascida na capital amapaense e criada no sul do estado, a autora cresceu entre os rios e as florestas tropicais, cenário fértil para que sua imaginação florescesse em narrativas permeadas por magia, mistério e um quê de assombro. Radicada em Minas Gerais, Yueh encontrou em Belo Horizonte seu novo lar e o terreno ideal para expandir sua trajetória literária, consolidada através de romances, antologias e novelas que já ultrapassam a marca dos dez livros publicados.

Seu romance de estreia, Asas Escuras (2019), elevou seu nome nas listas de ficção especulativa nacional. Nele, acompanhamos a ceifeira Lorna Helgardh, cuja rotina se desestabiliza ao resgatar um corvo ferido – um ato aparentemente banal, mas que a arrasta para um turbilhão de revelações e perigos. A narrativa, que mescla ação, romance e uma atmosfera sombria, abriu caminho para a expansão do universo de Nictofilia, explorado posteriormente em Pássaros Noturnos e Casablanca Memories, obras que aprofundam as tramas e os personagens que conquistaram os leitores.
Mas a obra de Yueh Fernandes não se limita a um único universo. O Conselho Feérico revela sua habilidade em reinventar mitos e fábulas, enquanto Alvorada e Hotel Alvorada transportam o leitor para uma floresta enigmática e um hotel à beira-mar, onde o inexplicável ronda cada esquina. Já Hirudina se destaca como uma narrativa epistolar de horror gótico, trazendo uma sombria metáfora sobre vício e dependência emocional. E, para os fãs do terror psicológico, Morangos Silvestres sob o Sol do Verão apresenta uma história arrebatadora sobre amadurecimento e assombração.

O lançamento de Morangos Silvestres sob o Sol do Verão foi acompanhado por um mini documentário artesanal, produzido pela própria autora, que explora os processos criativos e as inspirações que deram origem ao livro. A obra, que só ganhou forma definitiva em 2024, revela-se um testemunho sensível do amadurecimento literário de Yueh Fernandes, além de oferecer ao público uma imersão profunda em sua construção narrativa.
A escrita de Yueh Fernandes se equilibra entre o lirismo e o grotesco, desenhando paisagens oníricas e assustadoras com a mesma destreza. Seu talento reside na habilidade de criar personagens fantásticos e, ao mesmo tempo, humanos – figuras que enfrentam dilemas existenciais, apaixonam-se, temem, erram e desafiam seus próprios destinos. Como pontua um crítico sobre Morangos Silvestres: "Amadurecer implica, mais do que nunca, despir-se do que sempre pareceu seguro e acolhedor, e jogar-se ao desconhecido, reconhecer as fraquezas, os desejos e a própria força."
Seja explorando a morte como uma indústria em Pássaros Noturnos, revisitando os contos de fadas em O Conselho Feérico ou desvendando os segredos de uma estrada amaldiçoada em Hotel Alvorada, Yueh Fernandes conduz seus leitores por caminhos de sombras e maravilhas, onde o fantástico e o real se entrelaçam em narrativas inesquecíveis. Uma escritora para se acompanhar de perto – e, para os mais destemidos, ler à luz de velas.
Yueh é uma escritora amapaense que o Amapá precisa conhecer.
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